Quando a presença chega antes da palavra - Casa 1
Pare um momento e repare em como você chega. Não falo da roupa que está vestindo, mas da presença que antecede suas palavras. Há um modo muito particular com que cada pessoa ocupa o espaço, um campo sutil que se forma quando ela entra em cena. Essa impressão não se constrói com esforço, ela simplesmente emana. É como se o mundo captasse, em silêncio, uma camada mais profunda de quem você é, antes mesmo que qualquer gesto seja feito ou palavra seja dita.
Ao observar os objetos ao seu redor, talvez você perceba que muitos deles foram escolhidos sem uma justificativa racional. Mesmo que tenha pesquisado ou comparado opções, a maioria das escolhas que definem o tom da sua casa, do seu ambiente, da sua vida, nasce de uma percepção sensorial e emocional que opera fora do alcance da mente lógica. Esse mesmo princípio atua também na forma como você se expressa no mundo. Há algo dentro de nós que decide por onde começar, como se aproximar, como se defender ou se expor, muito antes da consciência entender o porquê.
A Casa 1 representa exatamente essa expressão que acontece antes da escolha. Ela fala da forma como você se apresenta, mas não no sentido estético, e sim energético. Trata-se de uma configuração interna que molda a forma como você responde à vida, ao novo, ao outro. É como se a existência precisasse de uma porta de entrada, e essa porta fosse você, com sua história, seus instintos, seus filtros e seu modo de ocupar o próprio corpo.
Esse campo de expressão se forma a partir de experiências muito precoces, impressões emocionais que atravessam os primeiros instantes da vida e que se consolidam como uma espécie de mapa silencioso. Muitas vezes, você não percebe, mas está repetindo um mesmo gesto de chegada há anos, como se seguisse fielmente um script que nunca foi escrito por você, mas que passou a fazer parte da sua identidade. É assim que se criam os personagens. E é também assim que, aos poucos, vamos nos afastando da presença real.
Observar a Casa 1 é um convite à retomada dessa presença. É a possibilidade de reconhecer com mais nitidez qual energia você coloca no mundo quando simplesmente chega. Não se trata de mudar a imagem, nem de ajustar o comportamento, mas de tomar consciência daquilo que já está acontecendo, o tempo todo, mesmo quando você acha que está em silêncio. E talvez, ao olhar para isso com mais presença, você comece a perceber que é possível se apresentar de outras formas, mais verdadeiras, mais livres, mais suas.
Quando esse reconhecimento acontece, a vida deixa de ser uma repetição de papéis e começa a se tornar expressão. A entrada nos lugares se transforma num gesto de escuta. E o mundo, em vez de responder a uma máscara, começa a responder a uma alma que escolheu se mostrar.